terça-feira, 12 de outubro de 2010

Um grave erro de avaliação



Perante a Alexandrina, o P.e Leopoldino teve, pelos vistos, um comportamento bastante legalista e hesitante. Na Casa do Calvário, nunca terá passado duma pessoa respeitada, sem chegar a ser um amigo ou confidente. Em sentido estrito, nunca a dirigiu nem foi seu confessor e o seu nome está ausente dos escritos, com excepção da Autobiografia.
Aquando da comissão nomeada pelo Arcebispo, não se colocou do lado da sua paroquiana; pelo contrário “foi o mais severo e o mais influente na decisão” tão gravosa que então se tomou (Dr. Azevedo) [1].

Mas o Cónego Molho de Faria era pessoa tão conceituada, tinha sido chamado a pregar tantas vezes na paróquia! Como havia um pároco de aldeia de se opor ao professor do Seminário Maior, formado na Gregoriana? E ainda havia o caso recente do P.e Oliveira Dias (colega do Molho de Faria no Seminário) e da sua Abscôndita… Mas era aí que o conhecimento da Alexandrina por parte do pároco deveria ter prevalecido…
A sua posição há de ter-se modificado nos derradeiros anos da vida da Alexandrina, como aconteceu com muitos dos seus mais obstinados adversários e como se revela nos escritos que lhe dedicou.
No arquivo da casa da Alexandrina, encontra-se uma carta do P.e Leopoldino Mateus, certamente dirigida ao P.e Humberto, que se enquadra no contexto das decisões tomadas após o exame da comissão de teólogos. Escreveu ele:

Balasar, 15/3/1945.
Rev.mo Senhor,
Saudações em Jesus Cristo.
Em resposta à sua carta, venho informá-lo que por ordem superior V. Rev.cia não pode exercer qualquer função sagrada na minha igreja e freguesia sem apresentar documento que prove ter jurisdição nesta Arquidiocese. Manda quem pode… obedece quem deve…
Uma comissão de teólogos, estudando o caso da Alexandrina, nada lhe encontrou de sobrenatural; por isso devem acabar as visitas dos padres e leigos, para fazer silêncio sobre a mesma.
Se a doente sofre, e creio isso, lá tem o seu Director Espiritual (que não sou eu) para a confortar e animar no sacrifício.
Não devemos meter a nossa fouce em seara alheia.
Agradecendo as suas atenções, subscrevo-me seu in corde Jesu
Lepoldino Rodrigues Mateus (pároco) [2].

Embora aluda ao sacrifício da Alexandrina, o facto de aceitar sem qualquer crítica a decisão da comissão dos teólogos – que também integrou – mostra como estava longe de entender o que com ela se passava.
De resto, mantém a afirmação fundamental da comissão: “estudando o caso da Alexandrina, nada lhe encontrou de sobrenatural”. E a Alexandrina já entrara no jejum completo (verificado pelos médicos) quase dois anos e meio antes, a consagração do mundo já tinha sido feita, o período em que ela revivia a Paixão com movimentos já ia longe…
Quando se publicou a biografia da Beata Alexandrina, não foi possível deixar de lá inserir uma menção da actuação da comissão dos teólogos. Naturalmente, ao menos desse pormenor tão relevante, o nome do P.e Leopoldino sai desacreditado. O P.e Humberto, por outro lado, não deixa de mencionar os artigos saídos no Ala Arriba que, esses sim, lhe são muito favoráveis.


[1] Esta opinião do Dr. Azevedo foi corroborada pela classificação atribuía à mencionada comissão aquando do Processo Diocesano. Veja-se o que escreveu o P.e Gabriele Amorth em Por detrás dum Sorriso.
[2] FERREIRA, José, Até aos Confins do Mundo, páginas 74-75.

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