O artigo da Prof.ª Zulmira Linhares sobre o P.e Leopoldino Mateus dá conta duma campanha em que o P.e Leopoldino se empenhou. O hospital poveiro atravessava uma séria crise financeira e era necessário mobilizar as pessoas para o ajudarem. O pároco de Balasar escreve três breves artigos para o Idea Nova e propõe num deles a realização dum cortejo de oferendas. O cortejo realizou-se e foi um sucesso.
A freguesia teve uma participação generosa: uma camioneta com lenha, batata e colmo, 60 cestos cheios de géneros, um casal de perus e a oferta de 2.300$00.
Nossa Senhora das Dores
A Prof.ª Zulmira Linhares facultou-nos cópia de dois artigos do P.e Leopoldino sobre Nossa Senhora da Dores saídos no Ala Arriba dos anos de 1957 e 1958. Vamos transcrever o primeiro deles. O autor já voltara para a Póvoa e naturalmente foi requisitado para escrever sobre o tema pelo seu amigo P.e José Cascão.
Num primeiro momento, o articulista analisa a situação existencial do homem, sujeito ao sofrimento, à luz da revelação bíblica, depois evoca a Mãe das Dores, cujo sofrimento ilumina a dor humana, e por fim refere-se à Procissão das Dores, que testemunha a fé na revelação cristã e é um exemplo concreto de esperança.
Todos A amam, todos A respeitam, todos A invocam, porque a dor acompanha a criatura desde o nascimento até à morte.
O homem nasce chorando, vive sofrendo, morre suspirando.
Ao princípio, nas delícias do Éden, reinava o amor, desempenhando o papel hoje atribuído à dor e bem mais satisfatoriamente que esta.
Se a dor nos ilumina e purifica, desprendendo-nos do que é efémero e elevando o coração dos mortais, mais rápida e nobremente exerce a mesma acção o amor.
Não houvesse fraquejado o primitivo amor no Paraíso terreal, se dele conservássemos no peito a chama viva em vez da pobre centelha que tão mal nos aquece, nunca teria existido a dor.
Precipitados no abismo da matéria, Deus, por efeito da Sua Infinita Misericórdia, concedeu-nos no próprio instante em que ia começar a queda, umas asas divinas com que nos sustentássemos e evitássemos a ruína irreparável.
O dilema está posto claramente: ou isto é a dor ou constitui uma fatalidade odiosa que inutilmente nos atormenta!
Temos de escolher entre a pesadíssima e gelada mão da fatalidade a triturar-nos, e contra a qual nada podemos, e a dextra carinhosa e paternal de Deus que, beneficente e compassiva, respeitando a nossa dignidade de seres feitos à Sua imagem e semelhança, nos toca apenas para nos melhorar e modificar, a fim de que possamos alcançar uma eternidade feliz.
Entra um Deus infinitamente bom e um tirano modelíssimo (sic) não existe meio-termo.
O homem sem fé, sem temor de Deus vê no sofrimento uma penalidade que atormenta cruelmente a humanidade, mas o crente vê o justo castigo dos seus desvarios e um acto de amor divino para o chamar ao arrependimento e mudança de vida.
Temos, pois, que nos conformar com a sua sorte e com a assistência do Senhor.
Prevaricámos, devemos reparação ao Criador que nos tirou do nada, satisfação ao Redentor que nos resgatou da culpa!
Mas o homem é um ser insignificante que, olhando para a grandeza do Altíssimo a quem ofendeu, reconhece o seu nada, perdendo a esperança do perdão e da misericórdia.
Mas, de repente, uma doce visão lhe esclarece o espírito e alenta o coração, uma mulher, que é mãe, trespassado o coração com sete espadas de dor[1], lhe inspira confiança e levanta o ânimo triturado pelo sofrimento, dizendo-lhe com voz sentimental – Vê, filho, se há dor semelhante à minha dor!
Esta cena de compassividade e sentimento maternal dá-se todos os dias e milhares de vezes, por isso, não admira que Nossa Senhora das Dores, sempre terna e compassiva para os que sofrem, conte inúmeros devotos que, reconhecidos, acompanham a sua imagem tão encantadora e atraente que prende os corações que a ela recorreram nos momentos da angústia e do desamparo, formando um cortejo de gratidão e amor à Consoladora dos aflitos, à Protectora dos triturados pelo sofrimento.
No próximo domingo, ao passar a procissão em que tudo é alegria, observando as Confrarias acompanhando os grupos alegóricos, espera um pouco e, passado o pálio, pensa um instante nesse novo cortejo de agradecidos, revelador do panorama da dor e sofrimento a quem a Virgem Dolorosa protegeu e que justifica a grande devoção que os crentes lhe tributam, porque lhes valeu na desdita e no infortúnio.
Perante este quadro da dor e da gratidão, nada de desespero nem de desânimo – quando as tribulações da vida nos visitarem, levantemos os olhos, invoquemos com esperança o patrocínio de Nossa Senhora das Dores, que soube o que é sofrer e amar, e a paz, a alegria, o conforto voltarão ao nosso coração triturado pelo infortúnio.
[1] O outro artigo sobre Nossa Senhora das Dores intitula-se mesmo “As Sete Dores de Nossa Senhora”; o P.e Leopoldino enumera-as assim: 1ª – A apresentação do Menino Jesus no Templo; 2ª – Fugida da Sagrada Família para o Egipto (…); 3ª – Perda e Reencontro do Menino Jesus no Templo, entre os Doutores da Lei; 4ª – Encontro da Mãe e do Filho, condenado ao suplício da Cruz, na rua da Amargura; 5ª – Maria junto da Cruz, extática, serena, amargurada na contemplação do seu Amado Filho Agonizante; 6ª – A Senhora da Piedade, sentada aos pés do Madeiro Sagrado, com o Filho morto no regaço maternal; e 7ª – A Soledade de Maria Dolorosa.
Estas Dores estão documentadas em nichos, com várias estátuas cada um, no exterior da Capela de Nossa Senhora das Dores.
Estas Dores estão documentadas em nichos, com várias estátuas cada um, no exterior da Capela de Nossa Senhora das Dores.
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